"Pai, porque é que tens tantos livros?" "Fui comprando" "Já os leste todos?" "Haa... vou lendo..." (24.11.2008)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008



Pedro Juan Gutiérrez, O Nosso GG em Havana (D. Quixote, 2007, tradução de Magda Bigotte de Figueiredo)


De quando em vez brota mais um escritor de moda. E nestas décadas vai acontecendo com os latino-americanos, muito a jeito por questões mais ou menos políticas. Há alguns anos foi-me enchida (e por minha culpa também) a casa de pequenos e manuseáveis livros - tinham essa vantagem - de Luis Sepúlveda. Uma maçada trivial, diga-se. Mas não só latino-americanos, também toca aos anglófonos (normalmente a área ideológica dos elogiadores é outra: tem muito a ver com os ícones Upstairs Downstairs e Che Guevara, uns sonham-se myladys outros comandantes, e transpõem isso para o que dizem dos livrecos). Nisso de anglófonos lembro-me do espanto ao ler o muito incensado e premiado "Amsterdam" de Ian McEwan. Tinha uma trama qualquer, que esqueci, mas que foi completamente previsível. E tinha em fundo e superfície um nada. E tanta tralha, e in e out-blog, que lera no elogio …

Desabafo que vem a propósito deste O Nosso GG em Havana, que me chegou muito recomendado. Cubano exo-Castro, desbragado, mito boémio etc e tal, o autor rende. Dele já lera “Carne de Cão”, sexo desbragado (os protagonistas - ronda de alter egos - gostam de fornicar na água do mar) e muito rum, alguma piada adolescente. Daí que me deixei ir na onda, 10.80 euros a menos no orçamento familiar também não é tanto assim.

Começa grotesco, um tal de George Greene arriba a Havana, é confundido com Graham Greene, e envolve-se com um travesti histriónico com uma pila de 40 cms. Escusado será dizer que negro, Gutiérrez tem uma fixação em pilas negras que chega a ser pungente. Depois arranja (arranjará?) um enredo policial, traz o verdadeiro Graham Greene à cidade, em descanso do gestação do “Quiet American”. Aí Gutiérrez acalma o grotesco - mas não o tom etnográfico sobre os pirilaus afro-cubanos - e dedica-se a uma ficção ensaística, misturando de forma paupérrima uma inenarrável trama pró-espionagem com uma explanação sobre o cerne de Greene/Fowler (o protagonista do Americano Tranquilo), enceta o “Factor Humano”, e remata as constantes deambulações entre o bem e o mal que o velho, e verídico, Greene dirimiu ao longo da vida.

Enfim, o livro é uma mera merda. Nem vale o desabafo. Este só encontra causa ao ver os elogios, seja na escrita de jornal, seja até em quem mo recomenda. Vamos ler coisas de jeito? Resistir ao marketing? Ao comercial e ao político. Livros não faltam. E na política, francamente, antes o Fidel Castro …

Sem comentários:

Feito com todo o vagar este é um sítio de arrumação de ideias (e informações) sobre alguns livros. Para que um dia, bem mais tarde, a filha da epígrafe as leia e os leia, se lhe apetecer.

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