
Pedro Juan Gutiérrez, Carne de Cão, Lisboa, D. Quixote, 2005 (tradução Jorge Fallorca)
Rum e Sexo. Muito de ambos. O protagonista (alter ego?) instalou uma pérola na glande, para potenciar a potência. É esta pérola o único adorno visível (?) numa escrita despojada - lembrando os ancestrais neste tipo. Nunca tinha lido este Gutiérrez, histórias (como se contos, como se episódios) com garra ainda que a darem a sensação que chegadas depois de muitos outros livros já havidos. Entenda-se, a rapar o tacho. Mas saborosas. Se calhar por isso, por ser uma descoberta de autor.
Um fatalismo um bocado blasé: "Não sabem que a sorte é de quem a encontra e não de quem a procura." (95), a sublinhar esta ideia de que não é tão original, uma sensação de pose literária
Ensaio sociopolítico sobre a Cuba local: "Recordo aquela época aborrecida, há quinze anos. Do meu apartamento, no quarto andar, só se via uma serração e outros edifícios, todos idênticos. Nunca se passava nada, éramos todos bons e correctos, obedientes e disciplinados. Agora é o contrário: somos todos maus e incorrectos. As mulheres, ao ataque, as pessoas cínicas e perversas. Todos desesperados numa correria louca e desenfreada atrás do dólar nosso de cada dia. É preciso avançar seja como for e deixar a merda para trás. Está bem. Gosto. Pelo menos não é aborrecido. E as pessoas tiraram a máscara. Nada de aparências. Agora é a época do caos e da vertigem. Garras e presas, à beira do precipício." (147-148) A fazer lembrar outros contextos pós-comunistas, com reconstruções dos "tempos" antigos, sobrevalorizando características do então (até surpreendentes). Mas, honestamente, coisa longe da literatura.
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